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PARAGUAI/BRASIL, AMERICA DO SUL E PCC

A fuga dos membros do PCC de uma unidade prisional no Paraguai estava no horizonte das possibilidades há algum tempo. Em meados dos anos 2000, iniciou-se uma revisão na divisão de trabalho entre traficantes brasileiros e produtores de drogas de países vizinhos, a exemplo da Bolívia e do Paraguai.


Controlando a distribuição e o consumo da droga em nosso território, grupos criminosos, a exemplo do Comando Vermelho e do PCC, e mais tarde a Família do Norte, passaram a se conectar com os grupos ou famílias que dominavam o tráfico na fronteira, verticalizando e articulando a produção ao consumo, passando a competir e em seguida tomar o seu lugar. Não sem enfrentamentos, como se deu na morte de Jorge Rafaat em 2016, pelo controle do tráfico em Ponta Porã na fronteira com o Paraguai.


Em 2011, o PCC organizou um núcleo no país vizinho, para onde mandava parte do excedente das suas atividades ilegais. Dentre outras atividades ilícitas, os recursos lavados no transporte alternativo, mineração, bebidas e postos de combustíveis, sobretudo em São Paulo.


Paulatinamente, o PCC, principalmente, e o Comando Vermelho, foram se infiltrando no sistema prisional paraguaio. Lá, como aqui, foram assumindo o controle de unidades prisionais e do seu aparato de segurança. Numa grosseira falha a ser explicada, os serviços de inteligência não detectaram a fuga em curso e 75 integrantes do PCC e de outras facções escaparam, levando apreensão a toda região.


Tendo fronteiras com os maiores produtores de drogas do mundo - Bolívia, Paraguai, Peru e Colômbia, o Brasil precisa se dar conta que é impossível combater o crime organizado transnacional apenas no nosso território nacional.


Nesse sentido, duas ações, dentre outras, se impõem: criar uma Autoridade Sul-americana de Segurança, que coordene e articule os órgãos de segurança, inteligência, acordos de cooperação e normativos existentes em nosso subcontinente e a refundação da Ameripol, nos moldes da Interpol e Europol, com capacidade de enforcement e personalidade jurídica internacional.


Sem elas, assistiremos a novos episódios de fuga, controle de unidades prisionais e adensamento das cadeias de produção e distribuição de drogas, e o avanço da sua internacionalização sob a liderança do crime organizado brasileiro, em associação com grupos de países vizinhos de toda a América do Sul.


RAUL JUNGMANN – Ex-ministro da Defesa e da Segurança Pública.

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