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AUTORIDADE SULAMERICANA DE SEGURANÇA

Somos a região mais violenta do mundo, diz a ONU, referindo-se a América do Sul. Nosso triste escore é de 24.2 mortes por cem mil habitantes, enquanto a média mundial é de 6.1. Por que somos assim? Desigualdade social, juventude vulnerável, sem emprego e fora da escola, cultura, justiça precária, urbanismo caótico, pobreza e drogas, muitas drogas.


Quatro dos 12 países da região são grandes produtores: Bolívia, Peru, Paraguai e Colômbia. Outros, como o Brasil, são grandes consumidores ou “hubs” de rotas que demandam aos EUA, África e Europa, a exemplo da Venezuela, onde a cúpula da ditadura é associada ao tráfico.


Porém, e apesar desse quadro, os acordos e protocolos de cooperação entre países do subcontinente pouca atenção deram até aqui ao tema da segurança pública. Noves fora a moribunda Unasul, e algumas cláusulas do Mercosul, os demais acordos, a exemplo da ALADI, do Pacto Amazônico e Andino, não tratam do assunto.


Um equívoco, entre outros motivos, porque através do tráfico de drogas, armas, contrabando e descaminho, as principais organizações criminosas da região se internacionalizaram, construindo uma dinâmica de associação e competição. Se transnacional e global, o crime organizado está, de há muito, a requerer uma resposta simétrica dos países da região.


Como já afirmamos nesse espaço, temos zero chance de enfrentar e combater drogas e crime organizado, reduzindo a violência e a insegurança nos nossos países apenas no interior dos espaços nacionais. Há que se criar uma estrutura que reúna as nações da região, possa articular e coordenar esforços de inteligência, dados, polícias, operações e compatibilizar e harmonizar a legislação existente, sobretudo no que diz respeito às nossas fronteiras.


Se faz necessário contar com uma força policial comum, a exemplo da Interpol e da Europol. A Ameripol, por não dispor de um tratado constitutivo, não possui personalidade jurídica internacional e, portanto, de enforcement.


Em 2018, em Buenos Aires, lideramos o processo para reverter essa situação. Idem, no âmbito do Mercosul, lançamos a proposta de uma Autoridade Sul-americana de Segurança, indispensável e urgente para a redução da violência e da insegurança na região e no Brasil.


RAUL JUNGMANN – Ex-ministro da Defesa e da Segurança Pública.

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